domingo, 23 de agosto de 2009

Isabel vai partir...

Rio de Janeiro, 23 de Agosto de 2009

Isabel vai embora... Disse-me em palavras doces... Lentas.
Não entendi direito... Pensei que ficaria para sempre...
Isabel quer a lua... Não vai lambuzar-se em qualquer ponto do céu.
Ontem, olhei-a de longe... Parecia que brilhava... Queria fotografar a estrada... Queria sair pelas matas... Estava insanamente encantada...
Hoje, porém, estava acuada... Olhos perdidos... Mãos tremulas... E da boca apenas meia dúzia de palavras...
Isabel, embora tente disfarçar parece um pouco comigo... Tem na vida as escolhas definidas... Não deixa tanta coisa perdida, mas... Não consegue ter um muro a sua frente... Arranca-o com as garras de um sopro...
Depois, lamenta ser assim...
Ainda aprendiz da vida...
Isabel contou-me que irá partir... Deste texto, apenas um recado...
Quer soluçar até o fim... E corroer as entranhas dos ditos... Pensar naquilo que vai perder...
Encontrar forças para sustentar o que for ganhar...
Isabel vai voar... Vai pelas heras da lua que aceita...
E eu vou tentar acompanhá-la... Rabiscando meia dúzia de outras palavras...

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

À tarde...

Rio de Janeiro, 19 de Agosto de 2009

Isabel anda contente... Resolveu tantas coisas que queria...
Encontrou-se... Eu diria.
Olhando-a bem de pertinho, posso entender o que ela diz sentir...
"Aflição"... Isabel tem nos pés um furacão.
Ontem, saímos para dar uma volta novamente... Eu a guiar os seus passos, numa volta pelos arredores da montanha...
Nenhuma palavra foi dita... Ela recusava-se a falar comigo, desde o último incidente... ( Eu não entendi que ela estava sofrendo por amor e falei mais do que a boca... E tal).
Isabel olhou para o céu, encantada... Gosta de fins de tarde... Fica perplexa diante das fronteiras mediadas pelo cair das luzes.
Ontem, percebi que ela havia mudado... Algo ainda no início... Sem muita definição ainda... Mas, algo concreto.
Ainda não sei o que é de fato... Sou a autora, não a personagem... Mas, o que Isabel guardara no peito por tanto tempo está mudando junto com ela...
"Não é possível amar assim... Tenho de cuidar daquilo que existe de fato"... Li, nas entrelinhas de um franzir de testa...
Mas, "aos farrapos" foi o que eu ouvi depois...
Em câmera lenta, pude ver a tarde sumir atrás de Isabel... Ela sorri, quando o vento lhe faz cócegas... Amarra, aos dedos, os cabelos... Morde os lábios...
Anda diferente, a Isabel... Está cada vez mais difícil esperar algo, quando é ela quem dita as letras...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

AMOR...De Isabel

Rio de Janeiro, 25 de Julho de 2009

Isabel acordou agora... Insônia... Medo... Fome... Sei lá!
Sei apenas que não me deixou dormir...
Queria que eu escrevesse um texto... Que ficasse de conversa... Queria atenção, nessa madrugada fria.
Tomei um longo banho... Fiquei aqui a esperar inspiração... Nada.
De repende ela veio com uma conversa mole... Está apaixonada... Que eu só escrevia que ela era doida... Que dizia tudo que lhe vinha à cabeça... Que eu era uma péssima dona de personagens... Que eu falava e não ouvia...
... Estava querendo colo... Eu entendi logo.
Fiquei olhando-a calmamente... Criando as margens da minha estória... Tentando não atropelar os dedos...
Falemos do Teatro?... _ Não... Falou Isabel recostando-se no sofá...
_ Quero falar de amor... AMOR!!
Pois bem...
O amor é algo doce... Que precisa ser podado na medida certa... Algo que envolve e te deixa com as pernas bambas... Viramos crianças...
_ Sei ... Sei... Vc sabe pouco disso...
_ Quem disse?!... rsrsr... Pois saiba que eu já amei muito nessa vida...

E ficamos nessa conversa solitária por alguns minutos...
Emfim, falamos de um amor-calcário... Aquele que não tem muita base sólida... Ela disse que isso é paixão.
-Paixão?!... É possível separar o Amor da Paixão?... Acho que não.
Isabel não falava nada de concreto... Queria que eu definesse rótulos...

_ O dia ainda não chegou. Resmungou baixinho... Olhando através da Janela, levantando uma pontinha da cortina...
Continuou...
_ Queria contar-te algo... Mas, é para escrever tudo o que eu disser... Combinado?...
_ Certamente... Diga-me.
_ Apaixonei-me...
_ E isso é bom?...
_ Eu não quero falar se é bom ou ruim... Quero apenas sentir.

_ Pronto! Já escrevi.... Continua...
_ Já disse. Era isso.

_ Mas, tu sabes que é Amor?... Que começa assim, sem pedir licença... E, depois, terás de dar um caminho para isso?

_ Tá... Já entendi. Sei... Sei... Sei...

(Ela é assim... Depois, reclama.)

O Amor... Falamos tanto dele... Dizemos que amamos... Ouvimos o retorno... Nem sempre acreditamos... Mas, ouvir é bom.
Pensei em todas as poesias... Nos poetas que o elevam... Nas ruas onde estão os casais apaixonados... Naqueles que conseguem viver isso de fato... E naqueles que sofrem por AMOR...
Isso tudo é tão contraditório!
Pensei em resolver isso tudo dizendo que era melhor Isabel esquecer das definições... Ouvir o coração e dizer aos quatro ventos que está perdidamente apaixonada...
Mas, agora, ela dorme... Enquanto eu fiquei acordada...

6:00


Publicado no Recanto das Letras: T1718117

Coisas de Isabel

Rio de Janeiro, 04 de Setembro de 2008

Isabel anda assim, ultimamente... Não sabe direito o que quer... Tem colocado o lixo, embaixo do tapete... Coisa que irrita é quando ela fica olhando pro nada! Mulher intediante...
Isso foi Isabel... Olhando pro umbigo...
Já sei, já sei!... Vou sair um pouco... Olhar a rua... Ver gente passando...
Sabe o que eu vi, esses dias?... Uma mulher vestida de laranja... Dos pés a cabeça... Coisa estranha! Quem vai querer sair na rua parecendo um fruta?...
Deixa ela Isabel... Fato esse não tem valor algum... Cores vivas, Isabel! Cores vivas!
Como é difícil dialogarmos... Entre o palito de laranjeira, na boca... e o digitar de um trabalho importante... Coisas de Isabel... Ela tem que se dividir em mil...
Esses dias, acordou às gargalhadas... Nem em sonho ela pára!... Risos e risos do nada... Parecia louca!... Depois o riso ficou manso... Os olhos remexendo, de um lado para o outro... E as lágrimas rolaram...
Isabel saiu.
Como é difícil sair a esta hora... carros e carros... gente e gente... estradas bifurcadas... O ar é caminho...
Dois minutos e ela não aguenta mais... Não é fácil conviver com ela mesma... Isabel anda tão irritante!... Custa sair e ver o mundo com óculos cor-de-rosa?!... Não é tudo tão certinho... Todo mundo educado... Tudo girando conforme os conformes... Ninguém sendo o avesso das ordens de gado...? Então, sossega!
Como é interessante olhar do avesso dos gomos... Um grupo minúsculo que unidos fazem o todo... um gomo... um grudadinho ao outro... Formam a fruta... Isso não é lindo,Isabel?
Laranja!!! Isso... a mulher vestida de laranja... Como era estranha!...
Mas, fazia parte do gomo... E isso é agradável... O diferente que está unido ao gomo, Isabel!
Não ao meu!... Deus me livre!... Um gomo cor-de-rosa, ainda vai... Mas, dividir o espaço com cores que eu não gosto...
Que tal... azul?
Sabe de uma coisa?!!... Vou voltar pra casa... Vc está amarga, hoje!...
Ah!... Que tal um suco?... _ Um suco, por favor. _ A senhora quer açúcar ou adoçante?... _ Pra mim nada, obrigada! Mas, pra ela... pode encher de açúcar...
O atendente olhou para um lado, para o outro... fitou Isabel, demoradamente... e disse: _ Quer dois copos?
Isabel sorriu...

08:15


Publicado no Recanto das Letras: T1160975

Isabel pensando...

Rio de Janeiro, 13 de Agosto de 2008


O que é o sentir?... Parece que o que eu toco vira sensação... Tudo o que eu vejo vira toque... Se eu comer, vira experiência... Doce, salgado, amargo...Azedo!... falta um sentido: um sentido, nessa frase!... Cheiro feito um dia de vento... Penso que inspiro os fatos... E estou soprando... Um movimento inverso, sem propósito...
Meus cinco sentidos em alerta total! Meus cinco dedos agarrando a vida em palma aberta...
Já pensou como as coisas caem das nossas mãos? Escorregam entre os dedos... Se a mão estendida, colhem-nos o plano... Se fechado em punho, renega-nos a afeição.
Tem algo errado, nesse pensamento... Acho que vou voar!
Isabel abre a janela, depara-se com um sol radiante... O vento sopra-lhe os cabelos num alvoroço... Escorre as mãos, na tentativa de contê-los. Um espetáculo de dia! (diz ela para si)... Sinto que... (fica sem palavras... O pensamento a respeito do 'sentir' a atormenta, hoje)...
Completa a frase: Sinto que o dia será perfeito!... Como posso saber?... Sinto tantas coisas ao mesmo tempo!!! E o peito? Quantas vezes sinto tudo ali... Afago... Apêrto!...
Um simples engano, em sentidos falhos... em tato, gosto, toque, cheiro... Ainda falta um sentido, nessa frase... Ah! eu sabia!... Eu ouço com moderação... é uma regra, antes de dirigir a minha vida... Nunca ouvir mais do que suporta o sangue!...
Que alívio! encontrei os cinco pares... Pares. Duos... Porque cada qual tem seu avessos... Toco/não -toco... Escuto/não escuto... E quem quiser continue!
Mas, e o peito?... Faz sentido entre os sentidos... Não faz?... Um coração atento vale em intuição... Em paixão... Em movimento do 'sentir' de circulação?!!
Meu Deus está faltando um sentido, nessa frase?


07:31

Publicado no Recanto das Letras: T1125766

Insônia

Rio de Janeiro, 07 de junho de 2008

Isabel não tinha muito tempo, aquele dia... Passou horas trabalhando. Pegou duas conduções para chegar em casa, a tempo de preparar o jantar.
Na cozinha pequenina, preparou rápido o alimento e correu para o sofá... Nesse momento, assistir ao noticiário da TV parece um privilégio...
Com os olhos quase fechados, subiu de joelhos na cama leve... E caiu em sono pesado! Acordaria às cinco... E o livro da cabeceira, ficou para mais uma adiada leitura.
Quando pequena, Isabel, corria solta nas páginas os livros... Hoje, corre o dia todo atrás do sustento.
Todos dormindo, graças a "deus"!... Rolando na cama... Ela acordou... Um pesadelo, um mal-estar, um vento frio... Insônia!
Foi beber água... Voltou pra cama, pegou o livro e começou a ler... Leitura chata, desalinhada... Não tinha nada do que era seu. Um par de páginas, volta aos parágrafos, num só tormento. Quase sem ar... Ligou a TV, canal da noite, muito chuvisco... Um cara chato a falar sandices, coisas de um mundo que não existe.
Em desalento... O corpo, um caco... Pensou no dia de amanhã. Pegou um papel, contas pra pagar: os débitos, os créditos, num só balanço...
Um barulho lá fora, um despertar... carros em movimento, buzinas agitadas, carro-de-bombeiro... Outro acidente. Da janela do apartamento pequeno, Isabel passou a sonhar... Com um mundo novo, com luzes fracas... com um um travesseiro... com lençóis de seda.... Levou um susto...Com o sol raiando e pássaros cantando.
Já era dia... Dia de acordar... Dia de trabalhar... Dia de ser Isabel. Correu, correu, correu...
- Que dia chato... O cara da TV vestido de um mundo fútil... O livro vazio, pois eu não o conheço... Outro acidente, tem gente que não aprende...
É outra noite, é outro dia... Isabel dormindo... Ave Maria! Hoje é domingo!


01:50

Publicado no Recanto das Letras: T1023199